ENREDO 2012

Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos
Enredo Pega no Samba– Carnaval 2012


Sinopse

Nessa ópera a vida vence a morte;
Vamos comemorar o show da vida;
Na natureza nada cria, nada se perde e tudo se transforma!
Essa você perdeu barqueiro!
Não morri,  dormir, no paraíso acordei, me transformei...
Mas a viagem é certa – o que você vai levar na bagagem, já pensou!
O seu olhar vou iludir
Se esse tema te assustar!
Faça uma prece, cumpra um ritual
Não adianta se esconder,
rezar ou correr um dia ela vem buscar.
Deixe a cadencia te levar,
Até quem não ta vivo vai cair no samba
Mantenha a calma, explode a emoção
O susto faz parte desse enredo
Não vou te contar! Venha assistir!
Com o Pega você vai se divertir.

São mistérios escritos na historia
Da maçã como fruto do pecado as histórias do Vale do Sidim
fui estatua de sal, só por olhar pra traz
fiquei na traição de Dalila quando ao cortar
 os cabelo sela o destino de Sansão.
No Egito na arte eternizei
e na balança da Deusa Maat meu coração pesei.
Fui poeta, sonhador e em busca da ciência fui queimado
 em um baile de mascara, eternizei o amor de Romeu e Julieta.
Pra continuar vivo, evolui,
não existe árvore sem a queda da semente,
não existe borboleta sem o casulo da lagarta
Dos pontos de luz no céu
Festejo no méxico o meu dia e faço carnaval
Só no Japãp com a cair das flores a morte vira vida
E no desabrochar da primavera
Encontro um arco íris
que nos leva as estrelas.

Este enredo não é como aqueles que você está habituado a assistir, é uma espécie de crônica, hã uma preocupação cronológica em apresentar o verdadeiro sentindo da vida em  conseqüência o sentido da morte, ele não tem um começo, um meio e um fim, é como se fossem peças soltas,  juntas pela  existencia, fazendo sentido na historia.



Ele começa quando você começa a assisti-lo e ao sabor do acaso ele vai se modificando, tomando forma, ganhando outro sentido. Não é um tema mórbido. Pelo contrario  revela uma sensacional biografia da vida do homem, com algum humor e um leve toque de ironia. Apresenta a morte cruzando informações filosóficas, sociológicas, e antropológicas com as ideais religiosas impostos por diversos sistemas. Nos convida a refletir sobre que graça teria a vida sem a morte a nos assombrar?

A IDÉIA DA MORTE ME DEIXA MORTO DE MEDO!



A morte veio convidar, nesse barco navegar, não tenha medo!

Se o tema te assustar! Faça tua prece! Cumpra um ritual! Uma moeda ou a sua alma é preço brincar nesse carnaval. Que sentido estamos dando a nossa vida! Há sempre um pesadelo para arrepiar, os emissários da agonia, vêm devorar, não adianta se esconder, rezar ou correr, não vamos escapar!

Deixe a cadência te levar, até quem não “tá” vivo vai cair no samba! Um grande espetáculo. Mantenha a calma! Explode a emoção, o susto faz parte desse enredo! Não vou te contar nada, venha assistir com o Pega no Samba, que hoje você vai se divertir!



É hora de viver intensamente, rever os conceitos, buscar rotas abandonadas pelo tempo, escrevendo a historia, a filosofia e a arte.  Liberte a tua emoção, mas cuidado pra não se enganar, precisamos morrer para viver e nesse ciclo a vida se renova na morte a cada dia, gerando uma força que faz acreditar na superação! Só temos a certeza que a morte é inevitável, mas nessa noite, o barqueiro, quem sabe vamos enganar!

UM CASTIGO - UM DOM



Tantos mistérios estão escritos nessa história, foram criados cenários que conduziram a humanidade para o infinito. Contos, seitas e personagens que guardamos na recordação.

Sem o pecado original a morte não seria hoje uma grande vilã e quem sabe viveríamos eternamente no paraíso, comendo frutas, correndo pelos campos e olhando os pássaros. Mas foi preciso Adão e Eva comer a maçã para terem a morte como castigo. Libertaram os pecados para o mundo - a gula, avareza, a vaidade (luxuria), ira, melancolia, preguiça e o orgulho. No vale do Sidim, um lugar paradisíaco, existia Sodoma e Gomorra, cidades-estados que foram destruídas, por reverenciar atos imorais, os pecados dominavam o corpo e o espírito daquele povo. 



Os mistérios da humanidade são escritos pela veia do ódio e do amor, muitas vezes usamos a arte para eternizar o que mais amamos. Um nazareno, com o nome de Sansão ‘Homem do sol’, era dotado de forca sobre-humana, amava Dalila uma linda mulher com poder de sedução, cela o destino com um ato traiçoeiro cortando os caracóis de seus cabelos, deixando fraco como criança. Foi preso pelos soldados Filisteus que perfuram seus olhos e o prenderam com algemas de bronze, foi humilhado e amarrado aos dois pilares no Templo Dagon, a multidão juntou-se aos milhares para ver a derrota de Sansão e este, num ultimo esforço, heroicamente, fez ruir os pilares, causando a destruição do templo e a morte dos Filisteus, de Dalila e de si mesmo.

O LIVRO ANTIGO DOS MORTOS

Nas areias do Egito surgi o primeiro e mais assombroso registro da extensão da memória e da imaginação o ‘LIVRO ANTIGO DOS MORTOS’, uma coleção de feitiços, fórmulas mágicas, orações, hinos e litanias do Egito que facilitam a passagem para além.




A idéia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante da deusa Maat  de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas os atos seriam levados em consideração. Narra a viagem de Ani pelo mundo dos mortos em busca da vida eterna, fornecendo as indicações necessárias para triunfar das inúmeras armadilhas matérias e espirituais que esperavam na rota do ocidente.

Continha as confissões negativas ou formulas para voltar a luz, que ajudaria a passar pelas portas que condiziam para o Saguão das Duas Verdades, onde fica uma grande balança para o último obstáculo, que é a pesagem do coração. Se o coração for mais leve que a Pena, o morto estava livre de pecados e tinha a garantia de uma entrada para o paraíso: o Campo de Canas. Caso contrário, a grande porta se abria e o falecido era lançado a uma criatura horrível chamada O Devorador dos mortos, um hibrido de crocodilo, pantera e hipopótamo – conhecido como Ammut.

CONSTRUINDO A HISTÓRIA, A CIÊNCIA E A FILOSOFIA



Com Schopenhauer, pode-se dizer, portanto, que a morte é o gênio inspirador, a musa da filosofia, sem ela provavelmente a humanidade não teria filosofado.De modo que é na morte e pela morte que se coloca o verdadeiro horizonte de sentido para a vida, justamente o contrário de seu significado para as civilizações. A morte não é a interrupção da vida, nem seu enfraquecimento ou sua sombra. Ela constitui o horizonte de sentido sem o qual o curso da existência, para pessoas e para os grupos, não teria nem direção, nem sentido, nem valor.

Na Idade Média reis, foram coroados e assassinados, morrendo pela ganância e poder. Os cavaleiros do apocalipse assombraram no cristianismo, trazendo o juízo final, aumentando o medo da morte.

A busca do conhecimento e o surgimento de novos conceitos pela base cientifica fez que homens e mulheres fossem queimados, enforcados, guilhotinados em busca da ciência. Nos contos de Skakespeare - Romeu e Julieta pertence a uma tradição de romances trágicos que remontam a antiguidade. Um desses romances é o da história de Píramo e Tisbe, das Metamorfoses de Ovídio, que tem a morte como libertação para o amor.
E temos ainda os que nunca morrerão – as criaturas da sombra (os vampiros), o exercito de imortais, que sempre assombram a mente humana.

O PODER DA TRANSFORMAÇÃO



Não existe planta sem a morte da semente, não existe embrião sem a morte do óvulo e do esperma, não existe borboleta sem a morte da lagarta, isso é óbvio a morte nada mais é que o ponto de partida para o início de algo novo, a fronteira entre o passado e o futuro.

O francês Antoine Lavosier tem o papel de tomar mundialmente a LEI DA CONSERVAÇÃO DAS MASSAS explicava que em qualquer sistema, físico ou químico, nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma em outra. Portanto, não se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada (Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma). Logo, tudo que existe provém de matéria preexistente, só que em outra forma, assim como tudo o que se consome apenas perde a forma original, passando a adotar uma outra.

Tudo se realiza com a matéria que é proveniente do próprio planeta, apenas havendo a retirada de material do solo, do ar ou da água, o transporte e a utilização desse material para a elaboração do insumo desejado, sua utilização para a população e, por fim, a disposição, na Terra, em outra forma, podendo muitas vezes ser reutilizado.

Antes de Darwin a ciência se retorcia em torno da crença religiosa segundo a qual todos os seres vivos tinham sido criados por Deus, cabendo aos homens apenas dar-lhes nomes. Quando começaram a ser desenterrados ossos de dinossauros e outros animais extintos, o sábio francês Georges Cuvier ofereceu a mais extraordinária dessas adaptações: "São ossos de animais que não conseguiram embarcar na Arca de Noé e morreram no dilúvio bíblico".

Darwin quebrou esse paradigma e chocou-se de frente com a hierarquia religiosa protestante e católica. Ele o fez de maneira serena mas irrefutável colocando de pé uma doutrina que se assenta sobre cinco pontos. A evolução, o ancestral comum, a multiplição das espécies, o gradualismo e a seleção natural. Dando a imortalidade sobre o contexto que somos ao devolvemos a terra a energia retirada evoluímos para algo antes imaginado.


A ARTE É ARTE POR NOS ENSINAR A MORRER



 A boa arte, no entanto, nos apresenta o verso: a vida entendida como perda e não como um somatório de coisas que devem ficar eternizando essa composição que um dia respondeu por um nome próprio e que como as demais coisas no universo devem passar.

Esquecidos da morte os homens deslembram-se da arte que morre em silêncio sem que a maioria se dê por isso. Em seu túmulo, as instalações e performances dançam um ritmo fugidio feito de som e fúria (desses nos entram violentamente pela janela e por meio das tantas fontes de ruído atuais) que em breve dará lugar a outra expressão igualmente irrelevante.

No Dia dos Mortos no México tem gente que dança e faz a maior festa para os mortos, é festejada de uma maneira muito interessante. De fato, brincam e satirizam a morte. E é justamente por este diferencial, que uma comemoração religiosa se transforma em um espetáculo interessante e enigmaticamente rico, uma verdadeira expressão da cultura mexicana.

 “A Morte do Cisne” (nome que recebeu o formato final) ilustra os últimos momentos de um cisne ferido. O ballet mostra um suave entregar-se ao seio do esquecimento: uma morte sem resistências, sem questionamentos inúteis, sem anseio de continuidade. A morte aqui é apresentada como evento da vida e se é verdade o que diz Carner, que toda arte é arte por nos ensinar a morrer, encontramos mais um atributo presente na peça que a torna imortal.




A cultura japonesa é, no fundo, uma cultura da morte. O mesmo ritual estilizado com que se prepara um vaso de flores é o empregado pelo samurai antes de cortar a própria barriga. Hanami é um festival que ocorre no Japão durante a florada das cerejeiras. As flores surgem apenas por alguns dias, colorindo a cidade em tons de vermelho e rosa, e depois desaparecem. Novamente, uma celebração da vida e da morte.

Mesmo que estejamos sozinhos nesse planeta, temos algo generoso que liga o céu a terra e nos indica um caminho do paraíso. O Arco-íris é um símbolo do sentimento ou da ligação de Eros. Representa a ponte entre o humano e o divino. Para os hebreus é a aliança de Deus com seu povo; para os chineses, a ponte de União entre o céu e a terra; para os gregos, é a representação de Íris, a mensageira dos deuses. Em todos os povos possui uma simbólica relacionada à imagem da ponte capaz de ligar o mundo sensível ao supra sensível.



Observar um arco-íris é ser testemunhar de um espetáculo de glória divina, de maravilha celestial. O arco-íris pode representar transfiguração, e se comportar como uma ponte entre a Terra e o Paraíso. Para os Chineses, o arco-íris é visto como um símbolo do Yin e do Yang, é percebido como um ato da benevolência divina, suas cores refletem as qualidades divinas.

Assim em busca a gloria encerramos esse espetáculo com o poder da Ressurreição em latim (resurrectione), grego (a•ná•sta•sis). Significa literalmente "levantar; erguer". Esta palavra é usada com freqüência nas Escrituras bíblicas, referindo à ressurreição dos mortos. No seio do povo hebreu, a palavra correlata designava diversos fenômenos que eram confundidos na mentalidade da época. O seu significado literal é voltar à vida; assim, o ato de uma pessoa considerada morta viver novamente era chamado ressurreição. Existe a conotação escatológica adotada pela igreja católica para esse termo que é a ressurreição dos mortos no dia do juízo final.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANTO-SPERBER M, ed. Dicionário de ética e filosofia moral.
 Verbete Vida e Morte. Trad. AM Ribeiro-Althoff et allii. São Leopoldo:
Editora da Unisinos; 2003. Vol. II, p. 748s.

KEIL IE, Tiburi M. O corpo torturado. Porto Alegre: Ed. Escritos;
2004.

SCHOPENHAUER A. Die welt als wille und vorstellung I (O mundo
como vontade e representação I). Livro I. In: Sämtliche werke.
Frankfurt/M: Suhrkamp: Ed. Wolfgang Frhr. Von Loehneysen;
1986. Vol. I.

GIACOIA Júnior O. A visão da morte ao longo do tempo.
Medicina (Ribeirão Preto) 2005; 38(1): 13-19.

CASSON, Leonel. O Antigo Egito. Biblioteca de história
universal Life.  Rio de Janeiro: José Olímpio, 1972. p. 70 – 91.

O LIVRO DOS MORTOS DO ANTIGO EGITO.
Tradução de Edith de Carvalho Negraes. São Paulo: Hemus, 1982. 356p.